Esta Primavera, por razões familiares, visitei Bragança e várias zonas a Norte e a Sul da cidade. Conhecia-a muito mal porque sou avesso a desorientações e falta de sinalização adequada. A rede viária da cidade é um pouco complexa para um “paraquedista”e a estrada de circunvalação prolonga os acessos e só os facilita a quem disponha de uma bússola. Mas este problema é, infelizmente, comum a muitas cidades portuguesas. À parte isto gostei da cidade. Tem alma e personalidade. Tudo nasceu no castelo e à volta dele dentro das muralhas.
Castelo de Bragança
Depois a cidade expandiu-se e viveu muitos anos confinada ao que é a sua zona histórica. Hoje esta zona não é mais que uma pequena parcela da cidade.
Bragança – Zona Histórica
Em anos ainda não muito distantes as populações das aldeias transmontanas viviam, quase exclusivamente, da agricultura e da pastorícia. Este modo de vida era regido por normas e hábitos comunitários no aproveitamento dos recursos. Entre os vestígios dessa época podemos citar os coutos, os rebanhos do povo e os fornos comunitários. Recentemente saltaram para a ribalta as chegas de bois e os caretos de Podence,tradições de cariz popular que causaram muita curiosidade por todo o país.
Bragança esteve atenta ao fenómeno e imortalizou-as em duas obras arquitectónicas que podem ser vistas,e fotografadas,nas duas rotundas da saída Norte da cidade.
Luta de Bois
Coretos de Podence
Todos já ouvimos falar da capital nacional e das capitais geográficas e administrativas. Mas além destas têm-se afirmado outras com base nos produtos,no património construído e nas actividades características das regiões. E assim surgiram as capitais: do cavalo, do gótico, do cogumelo, da maçã, do móvel, etc., etc.
O ano de 2010 foi eleito o ano da Biodiversidade. É claro que em 2011 e nos anos seguintes não vamos esquecer o tema. Pelo contrário,seremos obrigados a tê-lo sempre presente e e a tomar medidas cada vez mais rigorosas. Está em causa a sobrevivência da Terra enquanto planeta habitado. Mas o homem gosta de pautar as suas principais intervenções com datas e,se possível, com rituais. É por isto que me associo às comemorações já efectuadas pela Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais e pela Bioeventos propondo à Câmara Municipal de Bragança que se assuma como Capital das Borboletas de Portugal.
Efectivamente, tanto a Norte – Parque Natural de Montesinho – como a Sul – Serra da Nogueira e envolventes – vivem espécies de borboletas raras e que,no nosso país,só encontramos nesta região. De acordo com Maravalhas*, e com o “Atlas de las mariposas diurnas de la Península Ibérica e islas Baleares”, 2004 , da Sociedad Entomológica Aragoneza, há em Portugal continental cerca de 137 espécies de borboletas diurnas. Na zona de Bragança podemos ver a voar para cima de 80% destas espécies e 7 ou 8 delas são exclusivas, isto é, não se encontram em mais nenhuma zona do território nacional. É evidente que estamos perante uma situação ímpar.
Estes pequenos seres, tanto as borboletas como outros insectos, são frágeis e muito sensíveis às alterações climáticas, à poluição e às perdas de habitat. Um incêndio, uma queimada mal controlada ou um herbicida sobre uma determinada planta podem destruir para sempre uma pequena população rara e muito localizada.
Por tudo isto é urgente que se tome consciência deste frágil mas valioso património natural e que se adoptem medidas no sentido da sua conservação. O diálogo e os esclarecimentos com os agricultores e com os responsáveis das zonas florestais acerca das práticas amigas do ambiente,e portanto da Biodiversidade,são de vital importância.
Para começar e alertar consciências seria conveniente que Bragança proclamasse a importância do tema assumindo publicamente a sua condição de Capital das Borboletas de Portugal.
Limenitis reducta
*Ernestino Maravalhas
em “As Borboletas de Portugal”
edição do autor, 2003.
( A 2ª parte será inteiramente preenchida com imagens captadas em Trás-os-Montes)